segunda-feira, 8 de julho de 2013

Cuba – Por fora, bela viola...



Veja também os outros posts da série “Cuba”: "Pobre Cuba Libre" e “Sueldos de fazer inveja 


Você bem conhece o dito popular: “por fora, bela viola, por dentro, pão bolorento”!!

Não é difícil topar com obras de reforma, por boa parte de Havana. Me surpreendi com o grande número de edifícios sendo reformados ao longo do Malecón, famosa avenida beira mar daquela cidade.

Belo forte colonial "Castillo de San Salvador de la Punta"
Mais que merecido! Após 50 anos de abandono e castigo pela maresia, os outrora belos prédios do Malecón estão um verdadeiro caco, mal lembrando a antiga glória!

Em todos eles uma placa avisa: Oficina del Historiador de la Ciudad! Como as obras não seguiam nenhuma sequência lógica ficava me perguntando como é que seria feita essa escolha?! Que critério teria o tal Historiador?!

O Malecón
Como mora gente na maioria das edificações ao longo do Malecón, é óbvio que outras perguntas surgiam na minha cabeça:
  • Se o governo estava pagando, por que o(s) proprietário(s) daquele prédio tinha(m) mais direitos que os demais?!
  • Essa reforma toda saía de graça para essas pessoas?!
  • Para onde os moradores iam durante a reforma?!
  • E depois da reforma?! O que se passava?!
  • Se o dinheiro do governo cubano está pra lá de curto, de onde vem essa “dinheirama” da reforma?!
Um bando de desocupados de todas as idades se diverte no Malecón
Nem todo mundo em Havana está disposto a abrir o bico com estrangeiro. Afinal, a repressão a opositores do regime afrouxou um pouco, mas continua firme. No entanto, por você ser brasileiro e sendo o seu interlocutor um “bicitaxista” tagarela que nunca mais vai lhe ver de novo, as informações podem aparecer rapidinho.
Prédio típico do Malecón - note a antiga glória e que o prédio é habitado!
O dinheiro das reformas têm vindo, principalmente, de agências de cooperação europeias e chinesa. Grana que vem, dizem, a fundo “perdido”! Mas como não existe “almoço de graça”, por uma incrível coincidência os europeus estão entre os maiores investidores no setor de turismo, enquanto os chineses ficam com obras de infraestrutura. Captou?!
Fico imaginando a beleza original deste edifício
A ideia básica é restaurar TODOS os prédios do Malecón, recuperando sua glória original. Mas já imaginou quanto que isso ia custar?! Solução?! Restaurar APENAS A FACHADA, que é a que o turista vai ver, deixando o resto do prédio podre como está!
Castillo del Morro, visto do Malecón
A seleção para reforma é feita pelo valor histórico e visual do edifício... desde que, é claro, o resto da estrutura podre aguente a tal reforma!! Ou seja, por fora, bela viola!!!
Uma pena que tenham deixado chegar a esse estado de degradação
Essa reforma de fachada é feita gratuitamente pelo governo, maior interessado nessa maquiagem pra turista ver. Na maioria das vezes os moradores são transferidos temporariamente para albergues do governo, retornando após o término das obras. No entanto, há muitos casos em que as obras são feitas e os moradores continuam lá dentro... afinal, a obra é apenas na fachada, concorda?!!
Obra em restauração com placa da onipresente "Oficina del Historiador de la Ciudad"
Bem, os antigos moradores retornam com o fim das obras. Mas para onde vai aquele bando de varal de roupa, assim como aquele montão de tralha, que “adornavam” as antigas varandas e janelas?! Como critério para escolha de uma reforma, os proprietários assinam um contrato de compromisso de, em hipótese alguma, alterar a nova e bela fachada!
Edifício restaurado
Mas já que se está mexendo na fachada, por que não reformar todo o resto?

Essa possibilidade existe, mas, obviamente, não sai de graça. Se quiser, o governo reforma o prédio todo e lhe financia a dolorosa facada. Como o cubano comum nem de longe tem condições de pagar esses custos, é aí que sempre aparece alguém, cubano mais “abastado” ou estrangeiro, para comprar o edifício.

Edifício restaurado que se transformou no restaurante La Abadia e em um futuro hotel
Ganham todos: o novo proprietário, que irá transformar o prédio em hotel ou restaurante, e os antigos donos, que tirarão o pé da lama e ganharão uma grana nunca antes sonhada!

Com tudo isso em jogo, fico aqui pensando no tal do “Historiador de la Ciudad”, um homem honesto e acima de qualquer suspeita, concorda?!

Visão geral do Malecón
Afinal, como já disse anteriormente, não há almoço de graça!

Viva o socialismo! Viva a Revolução!!!


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